domingo, 7 de março de 2010

Geofagia - Porque os homens comem terra?

Em novembro de 2004, em viagem ao Peru, me deparei com a geofagia sem nem mesmo conhecer este termo.

Quando visitávamos moradores de casas de pedras na região de Silustane, nos foram oferecidas algumas iguarias como cortesia. Dentre vários tipos de legumes e bolinhos, me deparei com dois potes de louça brancos, com uma pasta que me era bem conhecida, mas que me lembrou na hora algum tipo de patê.

Ao perguntarmos o que havia nos potes, nos foi dito que era "argila" temperadinha com um pouco de sal, para ser comida junto com os legumes.

Confesso que na hora não tive coragem de ingerir, pensando em coisas como: de onde deve ser esta argila, como será que ela foi manipulada, será que foi preparada com cuidado? Rsrs.
Claro que, de nosso grupo, alguns europeus experimentaram a mistura, e nós, brasileiros, ficamos somente "olhando".

Mais tarde, perguntando ao nosso guia o porque de estas pessoas usarem a argila na culinária, como um complemento, nos foi respondido o seguinte: "eles usam para manter o sistema digestivo em equilíbrio, evitando adoecimentos, ou então para tratar alguma doença que já esteja instalada no corpo".

Senti-me feliz de ter tido a chance, então, de constatar pessoalmente o que eu já sabia de forma meramente "intelectual": a argila sempre foi e ainda é utilizada com fins terapêuticos por vários povos, em várias partes do planeta.

E nesta busca constante pela compreensão do poder de cura da argila recebi anos depois este texto que, para as pessoas que sentem necessidade de um estudo mais "científico" sobre o tema, possivelmente será um tanto quanto satisfatório!

Espero que gostem e possam, um dia, experimentar o contato com este elemento tão simples e ao mesmo tempo tão poderoso que nos foi disponibilizado pela Consciência Suprema e pela Mãe-Terra.

Namaskar!
Giovanna

"Pessoas em muitas partes do mundo se permitem a curiosa prática de comer terra, também conhecida como geofagia. Mas porque o fazem permanecia um certo mistério. Agora, um novo estudo visa mostrar que a argila pode ser vital na proteção de mulheres grávidas.

Os habitantes da ilha de Pemba, no leste da África, exultam quando uma de suas jovens mulheres começam a comer terra - este suplemento alimentar incomum só pode significar uma coisa: que ela está esperando um bebê.

'Uma porção diária é de cerca de 25 gramas de terra', disse Sera Young, que trabalha em tempo integral na pesquisa da geofagia. A antropóloga de 30 anos logo se transferirá da Universidade de Cornell para a Universidade da Califórnia, em Berkeley.

Em todo continente há pessoas que comem greda, argila ou marga. Mas apenas agora Young e seus colegas estão começando a entender que forças as levam a fazer isso. Independentemente das pessoas estarem comendo argila de fontes naturais ou comprando "argila medicinal" na farmácia para comer, elas estão claramente seguindo algum anseio ancestral que se desenvolveu ao longo da evolução.

Não são apenas seres humanos que comem um pouco de terra de vez em quando. Papagaios, cachorros, vacas, ratos, elefantes e chimpanzés também o fazem. Até mesmo homens pré-históricos compartilhavam esta paixão por comer terra. Uma escavação arqueológica na África encontrou marga em pó que claramente era usada como ração de marcha há dois milhões de anos. Mas a pergunta permanece: por quê?

Em seus estudos na ilha de Pemba, que pertence à Tanzânia, Young observou que principalmente as mulheres grávidas sentiam desejo por terra. "É como um vício. Há até mesmo uma palavra para isso: vileo", ela disse.

Mas as mulheres grávidas não simplesmente recolhem sua refeição terrena na rua. Na verdade, elas não medem esforços para assegurar que seja o tipo certo de terra. Elas raspam marga de fontes específicas ou a coletam em certos locais fora de suas aldeias. "A terra não pode ser suja", explicou Young.

A seletividade dos comedores de terra chamou a atenção do naturalista alemão Alexander Von Humboldt há 200 anos, quando ele passou algum tempo onde atualmente é a Venezuela. O povo indígena otomaque, ele notou, preferia as camadas aluviais onde era encontrada "mais espessa", com melhor sensação.

O fato de os indígenas devorarem terra em quantidades tremendas e a guardarem para tempos de dificuldade, na forma de bolas de argila secas, levou Humboldt a supor que a geofagia era usada como solução improvisada para momentos de escassez de alimentos. De fato, as pessoas comiam terra particularmente em momentos difíceis, como no Haiti em 2004, quando os moradores das favelas recebiam bolos de manteiga, sal, água e terra.

Mas esta hipótese da fome não explica o fenômeno plenamente. A terra também está no cardápio de pessoas que se alimentam bem. Logo, muitos pesquisadores acham que a terra funciona como um medicamento natural. A marga, afinal, contém magnésio, sódio, cálcio, potássio e ferro e uma grande quantidade de minerais. Em casos de diarréia severa, segundo alguns cientistas, uma colher de chá de terra poderia fornecer ao corpo os minerais perdidos.

No entanto, Peter Hooda, um pesquisador de solo britânico, descobriu indícios de que, pelo contrário, a marga tira mais do corpo do que fornece. O cientista e sua equipe chegaram a esta conclusão surpreendente depois de realizar uma simulação em laboratório da interação entre a terra e o trato digestivo. Eles misturaram marga, ácido gástrico e nutrientes, deixaram a mistura barrenta à temperatura do corpo por tempo suficiente para reagir plenamente e então analisaram o composto resultante.

A conclusão: Um desintoxicante natural para o estômago.

Os resultados mostraram que muitos nutrientes se ligaram firmemente às estruturas microscopicamente pequenas na marga. Isto levou a uma redução significativa no ferro, zinco e cobre disponíveis no banho de lama, o que estava de acordo com uma das observações de Young em Pemba: muitos dos apreciadores de marga eram anêmicos e apresentavam níveis baixos de ferro no sangue.

Mas em algumas circunstâncias, supõe a antropóloga, o efeito laxante da terra poderia ser uma vantagem. "A terra pode ajudar a remover toxinas do corpo". Esta teoria é apoiada por algo que Young notou após estudar mais de 2.700 casos relevantes na literatura sobre o assunto: crianças pequenas e mulheres grávidas - pessoas para as quais uma intoxicação pode ser particularmente séria - fazem uso muitas vezes frequente deste recurso natural.

Até agora, o enjôo matinal era visto como um mecanismo evolutivo desenvolvido para proteger a criança ainda não nascida das substâncias prejudiciais nos alimentos. Seria a geofagia uma estratégia natural?

Em uma tentativa de dar mais substância à sua teoria, Young está atualmente acompanhando a análise de mais de 30 amostras de terra em Pemba, Quirguistão, Indonésia e outras áreas pelo Instituto Macaulay, em Aberdeen, Escócia, para entender até que ponto elas possuem potencial químico de remover as toxinas dos alimentos.

As análises poderão fornecer prova científica do que muitos comedores de terra sempre disseram: a terra limpa o estõmago.

02/01/2008

Jörg Blech


Um comentário:

Carol Werneck disse...

Dentro do amor que conheço emanar de você, compartilhar dos conhecimentos que você tem é um dos presentes nessa vida.
Conte comigo sempre.
Bjos